quinta-feira, 18 de abril de 2013

O texto de 1Pedro 4.8 pode ser usado para justificar os pecados pelas obras?



“Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados”.

Antes de mais nada, é bom deixar claro que as obras são de extrema importância para o cristão, que não pode deixar de exercê-las. As obras são importantes por, no mínimo, duas razões: 1) demonstram para as pessoas como os crentes que imitam a Cristo procedem; 2) glorificam a Deus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).

É importante notar que as obras, em si mesmas, não são objetos de preocupação e ênfase soteriológica, até porque há pessoas que perdem a essência do que é desenvolver, segundo o padrão de Cristo e das Escrituras, as boas obras: “E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes” (Mt 23.5).

Para Deus, somente após a pessoa ingressar em seu reino celestial é que as obras que pratica passam a ter valor, não antes. Além disso, a Bíblia fala de obras mortas: “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus” (Hb 6.1). Em matéria de fé e salvação, o projeto de Deus antagoniza os ideais humanos que se baseiam em obras: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). Mas, embora não sejamos salvos pelas obras, a bondade e a benignidade devem ser buscadas pelos salvos: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10), e isso, mais intensamente do que quando não éramos salvos em Cristo, porque noutro tempo éramos gentios na carne, “mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cris
to chegastes perto” (Ef 2.13b).

A expressão que causa dúvidas em 1Pedro 4.8 é a que diz que “o amor cobrirá a multidão de pecados”. Segundo interpretações indoutas, se o texto afirma claramente que há pecados que são perdoados com o envolvimento desse sentimento afetivo, então há algo nas obras que pode trazer salvação à humanidade à parte de Cristo. Sendo assim, conclui-se que uma pessoa que dispense amor à outra poderia se salvar. Mas isso não é bíblico. A salvação está em Cristo: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.11), e em sua obra vicária: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1.18,19).

Não vamos amar o próximo por esta causa? De maneira nenhuma! O instrumento aferidor para saber se alguém é discípulo de Cristo é o amor: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35).


Por que Jesus amaldiçoou a figueira por não produzir figos se o texto de Marcos 11.13 deixa claro que não era o tempo propício para isso?

“E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos”


Pelos relatos bíblicos, notamos que Jesus entrou no templo num dia de domingo, à tarde, e observou tudo ao seu redor. Logo depois, foi para Betânia, onde passou a noite, possivelmente na casa de Lázaro, irmão de Marta e Maria. No dia seguinte, no caminho, Jesus teve fome e foi procurar fruto em uma figueira que encontrou à beira da estrada. Não encontrando fruto, o Senhor amaldiçoou a figueira, que, Imediatamente, ficou seca. Alguns ficam consternados com essa narrativa, pois vêem nesse episódio uma atitude subjetiva e inexorável de Jesus. Afinal, por que Ele teve essa atitude? Estaria Ele irado? Estaria Ele exibindo seu poder?

O historiador Marcos (11.13) faz algumas observações interessantes. Acompanhe o relato.

Passando pela estrada, Jesus observou “de longe uma figueira que tinha folhas”, e, ao presenciar as folhas, “foi ver se nela acharia alguma coisa”. Esse detalhe é importantíssimo, visto que, “quando ocorre a primeira maturação, as folhas ainda não estão completamente formadas (Ct 2.13)”. Mas ocorreu que “chegando a ela, não achou senão folhas”. Como havia folhas se ainda não havia acontecido a maturação? O fruto deveria preceder as folhas! Notemos que se trata de uma exceção. Não avistando frutos, Jesus lança uma sentença contra a figueira: “nunca mais alguém coma fruto de ti”. Mateus 21.19 encerra dizendo que “a figueira secou imediatamente”.

Apesar de ter uma abundância de folhas, “aquela figueira, entretanto, fora um ludíbrio”. Em outras palavras, aquela figueira evidenciava ser o que não era. Mostrava ser uma coisa quando, na realidade, era outra.

Podemos extrair duas lições desse episódio. Primeira, pertencemos a Cristo para darmos frutos para Deus (Rm 7.4). Segunda, a inexistência de frutos espirituais no crente comprova que não pode permanecer no meio do povo de Deus, portanto, é desarraigado de Cristo (Jo15.2).

Já Gleason Archer observa que “pode muito bem ter acontecido que Jesus viu naquela figueira estéril que ele encontrara pelo caminho de Jerusalém, naquela segunda-feira de manhã, da semana santa, um lembrete vívido da falta de frutos em Israel, como nação de Deus. Por essa razão, usou aquela árvore como ilustração dramática de sua lição aos discípulos”.


Quem é a senhora mencionada em 2João 1,5?

“O presbítero à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade [...] E agora, senhora, rogo-te, não como se escrevesse um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio tivemos: que nos amemos uns aos outros”.


Devido à complexidade do assunto, é importante recorrer à língua original do Novo Testamento para amenizar a dificuldade. No original grego, tanto no primeiro como no quinto versículo, a palavra “senhora” é (kuria). Entre os vários pontos de dificuldades, está a questão relacionada à derivação da palavra “igreja”, que é kuriake. A Enciclopédia explicativa de dificuldades bíblicas nos esclarece que “entre os romanos e os atenienses esta palavra significava o mesmo que (ekklesia), termo utilizado para designar uma assembléia de igreja”. Um importante Léxico Grego acrescenta que “´senhora` pode se referir ou a uma pessoa ou, mais provavelmente, a uma congregação de importância”.

Contudo, alguns não apóiam essa defesa e dizem tratar-se de uma irmã influente na igreja, ou uma senhora. Sendo assim, essa pessoa era eleita e se chamava Kyria. Ou era uma senhora e se chamava Eleita. Russel Champlin julga ser incomum alguém se dirigir à igreja com a expressão “senhora eleita”. Ele diz que o texto faz alusão a “alguma dama bem conhecida pela sua piedade, em cuja casa a igreja se reunia, ou que exercia grande influência em certas congregações da Ásia Menor, talvez como diaconisa”.

Uma das maiores questões quanto à possibilidade de essa senhora ser a Igreja é perceber na essência da carta certo elemento condizente com a expressão “filhos”. Estaria João tratando apenas com os filhos dessa senhora? Seria possível isso? Sim. Mas tais filhos também poderiam ser os membros da Igreja de Cristo. Essa incógnita se estabelece por causa da ambigüidade que permeia o texto, interpretado hoje por nós a séculos de distância de sua produção original.

Se o nome dessa senhora fosse Eleita, existiriam, então, duas irmãs com o mesmo nome, o que, ainda que não seja impossível, é incomum: “Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém” (2Jo 1.13). Se o nome fosse senhora ou Kyria, não seria adequado dogmatizar a questão, pois em 1Pedro 5.13 a Igreja é chamada de eleita: “A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos”.

Se não podemos fechar de forma categórica o assunto, até porque não é tão prioritário assim, resta-nos ponderar que o objetivo da carta escrita é muito mais importante, pois é artigo de fé. De que trata a epístola?

A carta é uma exortação para se guardar das falsas doutrinas, desviando-se delas e dos que a professam. Há um alerta sério para aqueles que deixaram a sã doutrina e passaram a professar algo diferente daquilo que foi ensinado.

Referências bibliográficas:

ARCHER, Gleason. Enciclopédia de dificuldades bíblicas. São Paulo: Editora Vida, 1997.
COLEMAN, William L. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Minas Gerais: Editora Betânia, 1991.
GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico do N.T. Grego/Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 2003.
VILA, Samuel. Enciclopédia explicativa de dificuldades bíblicas. Barcelona: Libros Clie, 1981.

Preparado por Gilson Barbosa

Participantes desta edição:

Marcelino Freitas
Eliabe Bernardo
Sandro Marcus Sá

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